novembro 11, 2008

ainda sobre Frida



[Re]leituras de Frida Kahlo:
por uma ética estética
da diversidade machucada

organizado por Edla Eggert, UNISC 2008










Participei do projeto do livro organizado por Edla Eggert: exercício de Valetas eu ainda em Poa.
Algumas questões ficaram de fora... tudo de Frida é excesso... um pouco mais, então.


Alguns problemas se insinuam nesse projeto de olhar as mulheres latino-americanas nos olhos de Frida e ao mesmo tempo se deixar ver. São todos bem-vindos porque ajudam a explicitar motivações, intencionalidades e intensidades de uma teologia feminista da libertação.

a relação religião e arte na teologia da libertação latino-americana


Para teologia latino-americana a vitalidade está na libertação da teologia e o deslocamento do discurso e da prática das mãos centralizadoras dos teólogos para a vitalidade da pesquisa histórica e antropológica. Superar toda necessidade de re-invenção das autoridades espelhadas em si mesmo – seja na forma da busca dogmática e suas coincidências metafísicas, seja na busca do original originário da exegese incomunicável. A religião está presente na cultura latino-americana de modo literal, imagético, iconoclasta, piedoso e desencontrado, para além dos textos e das teses; presente nas crenças e nos festejos, nas contradições dos credos e suas hibridações; na arte e na militância que não precisa de religião.


o estatuto do religioso (ou do não religioso) na arte de Frida


Mais do que uma teologia da hermenêutica do símbolo – dizia Dussel- que se esgota na identificação da cultura popular como forma de resistência, o desafio de uma teologia da libertação continua sendo o de dissolver as fronteiras eclesiológicas e cristológicas, recusando qualquer triunfalismo cristão latino-americano e re-colocando a religião de Jesus em relação. Não se trata do sincretismo asseado e sutilmente violento das inculturações que perpetuam a conversão e inserção do sagrado dos outros na ordenação tolerante da cristandade. Significa perceber a religião de Jesus como uma religião entre outras, entender a tradição de Jesus de forma plural, descentrada, fragmentada e conflitual.





o estatuto do político e das vias revolucionárias na arte de Frida

"1ª Convicção de que não me alinho com a contra-revolução – imperialismo, facismo, religiões, estupidez, capitalismo e todo o tipo e truque da burguesia, Desejo fazer parte da Revolução para a transformação do mundo, num mundo sem classes, numa vida melhor para os oprimidos. " Anotação do Caderno de Frida
Frida expressa uma adesão ao materialismo dialético e ao movimento comunista internacionalista mantendo o conflito com a liberdade de sua arte e seus aspectos imaginativos, creativo, ficcional e não restritiva.


o trânsito intenso e complexo entre biografia, arte e teologia e o real léxico do sofrimento


Corpo, Território e Dor. Frida sofreu trinta e duas operações desde o dia do seu acidente até sua morte. Foram 29 anos de dor constante. A partir de 1944 se vê obrigada a usar oito coletes ortopédicos. Em 1953 será preciso amputar a perna gangrenada. O cheiro de suas costas feridas é insuportável. Experimenta diversos abortos espontâneos com muita perda de sangue e vive cercada de remédios e clorofórmio, ataduras, agulhas e bistuirs. É um São Sebastião atravessado de flechas.
"Del mismo modo que el pueblo esta quebrado a la mitad por la pobreza, la memoria y la esperanza, ella, la mujer irremplazable, la irrepetible mujer que llamamos Frida Kahlo, está rota, desgarrada en el interior de su cuerpo, igual que México está desgarrado en su piel externa." Carlos Fuentes


a localização de Frida na nomenclatura da arte: fazia parte do surrealismo? concretista ou o que?


Ela nunca soube! Nem quis saber!
“Brasileiros e latino-americanos fazemos constantemente a experiência do caráter postiço, inautêntico, imitado da vida cultural que levamos. O gosto pela novidade terminológica e doutrinária prevalece sobre o trabalho de conhecimento, e constitui outro exemplo, agora no plano acadêmico, do caráter imitativo de nossa vida cultural . Convivemos com este sentimento de inadequação; um desconforto nos persegue: o que constituiria um pensamento original, uma pesquisa autenticamente latino-americana? Desde sempre somos consumidores de teologias das metrópoles: escolhemos um teólogo (ou teóloga) e reproduzimos à exaustão o que ele disse, a ética dele, a estética dele, a cristologia dele, o método dele... e nos sentimos mais seguros assim sob a sombra da pesquisa das metrópoles." (SCHWARTZ, Roberto, Nacional por subtração, in: Cultura Brasileira – tradição-contadição, Zahar/Funarte, Rio de Janeiro, 1987, pp. 93-94)


a arte de Frida é popular? é latino-americana?

Até que a teologia da libertação nos convidou ao latino-americano e insistimos que era possível fazer teologia em português e em espanhol de aqui perto. O alívio é enorme! Não fomos autorizados a desistir dos clássicos, nem das longas citações... mas abriu-se um espaço de criação e consolidação de uma teologia com os pés no chão das realidades latino-americanas. O fetiche simplista dos nacionalismos, o elogio mecânico das tradições autóctones e populares e as adaptações didáticas de velhos catecismos sempre revelou o perigo do populismo que levava ao retrocesso:
“...um discurso teológico que, tendo sido de libertação em momentos de liberdade relativa, se torna reformista... propondo graves erros estratégicos”.
A grande autonomia de Frida, com una prática sistemática de auto-observação e de re-criação: seria possível localizar sua arte num processo coletivo de expressão?


a relação complexa, apaixonada e conflituosa com Diego Rivera

Como entender as constantes aparições e referências na arte de Frida ao pintor, marido e camarada Diego Rivera? Os contornos de uma paixão de novela mexicana explicam o amor de Frida limitada pelos conteúdos do amor romântico e burguês (temperados com muito sofrimento!) que ainda formatam as relações sociais de gênero e poder na América Latina? Parece que Frida assumiu uma estratégia de construção de um personagem, da mulher que gostaria de ser naquele tempo e lugar. Para muitos autores Diego Rivera representaria o México, a Revolução, a Arte. Frida se veste como um personagem de um dos murais de Diego: elege seus vestidos e cabelos, jóias e ornamentos como “ o mexicanismo” retratado nos murais. Seria isso amor? Dependência? Um gesto político?

a recepção de Frida como ícone e produto na cultura atual

Frida como ícone a ser domesticado pela propaganda e as estampas oficiais. são presenças para serem vestidas e tomadas... Frida Khalo não se deixaria conceituar ou explicar! Vista-me! Beba-me! Coma-me! Veja-me!


a simultaneidade/ambiguidade de homem-mulher, popular-vanguarda, ordinário-extraordinário: Frida seria queer?

Muita coisa ao mesmo tempo. Para a teologia latino-americana fica o desafio de abandonar os formatos catequéticos e seus imobilismos psíquicos, reproduções permanentes, as firmezas teóricas e as paradas arquetípicas ; renunciar à procura das origens originárias dos textos originais dos Evangelhos e da Teologia e abandonar-se à vertiginosa tarefa dialogal e polifônica do olhar antropológico sobre as culturas latino-americanas e suas recepções. Imprevisíveis. Irregulares.




http://www.radio.usp.br/imagens/frida.jpg









************************************************************

BLASFÊMIA Cecília Meireles




SENHORA DA VÁRZEA, Senhora da Serra!
pelos teus santuários, com cinza na testa,
irei arrastando os joelhos e a reza; subindo e descendo ladeiras de pedra, sustentando andores, carregando velas, para me livrares,


Senhora, da lepra! Senhora da Várzea, Senhora da Serra!
terás mais altares, terás mais capelas, sinos de mais bronze, mais flores, mais festas, mais círios, mais rendas, e de ouro coberta brilharás, Senhora,
de fazer inveja a todas as santas que há na glória eterna!
Matei minha filha: mas era tão bela!




Roubei cinco noivas: mas o amor não cega?
E Deus não perdoaa quem se confessa?
Ergui seis igrejas: nenhuma te alegra?
Todas em memória dessas seis donzelas que por mim perderam seu corpo, na terra...
Meus crimes, paguei-os com brincos, fivelas, coroas de prata,
e mais que te dera, para me livrares,


Senhora, da lepra! Senhora da Várzea! Senhora da Serra!
pede-me por sonhos: darei quanto peças - mais ouro, mais prata, mais luzes, mais telas.
Maior que os meus crimes é a minha promessa.
Vejo com os meus olhos como degenera a carne que tive.
Por que me desprezas, Senhora da Várzea?
Do mal que me cerca, por que não me livras, Senhora da Serra?
Mão com que matei, hoje se me entreva.S
into desmanchada em cinza funestaa boca de outrora.
E a língua me emperra aquela peçonha de que seis donzelas
receberam morte, lindas e sinceras.


Senhora da Várzea! Senhora da Serra!
Paguei meus pecados,- e não me libertas?
Calcaste dragões, dominaste feras, e ao mal que me oprime, Senhora, me entregas?
Por que não me salvas? Que ordenas? Que esperas?
Ah, santa insensível, não sofres, não pecas!

Senhora da Várzea! Senhora da Serra!
Devolve o ouro e a prata das minhas ofertas!
Que o vento arrebente portas e janelas das tuas igrejas!
E fiquem nas trevas ou sejam levados pelas labaredas altares queimados e naves desertas!
Caiam no teu peitomais agudas setas! Arda em brasa o ramo que nas mãos carregas!
Nunca mais se arrastem meus joelhos nas pedras, nem a minha boca suspire mais rezas!
Nunca mais andores, nem círios nem festas! Dei-te seis igrejas: que me deste? Lepra!

Senhora da Várzea! Senhora da Serra!
Grito aos quatro ventos do céu e da terra:
Conheci seis virgens: nenhuma severa como tu, nem fria, serena e perversa!
Seis virgens matei! Sou morto por esta! Dei-lhe seda e ouro que às outras não dera!
Soluçar de joelhos,- só diante dela! Morro impenitente, fazendo-lhe guerra.
Que o fogo profundo lamba a minha lepra!
Seja eu todo cinza,no tempo dispersa, negra cinza de ódio que te envolve e nega,
Senhora da Várzea, Senhora da Serra, ó virgem das virgens, sem piedade - e ETERNA!

***********************************************************

RIBLA: religião & erotismo

Sagrados Corpos
Nancy Cardoso Pereira

Deus fez-nos corpos. Deus fez-se corpo. Encarnou-se. Corpo: imagem de Deus. Corpo: nosso destino, destino de Deus. Isto é bom. As reflexões e orações de Rubem Alves nos anos de 1980 afirmavam poeticamente, repetindo o credo cristão, Creio na ressurreição do corpo.1
O que ele dizia não era novidade, era o que repetíamos dominicalmente, parte da fé que professávamos publicamente. Não era o que ele dizia. O que importava era como dizia! O que fazia diferença é que a frase se mostrava e pedia para ser repetida eroticamente: Creio na ressurreição do corpo! Abriam-se as possibilidades de sedução do Credo, afirmando o desejo cravado no corpo como lugar sagrado. Já não podíamos repetir o credo sem arfar e gemer, passando pela história e pelo evangelho, chegando ao clímax de dizer Creio na ressurreição do corpo! como expressão de prazer e desejo antecipados e já realizados.
O próprio Rubem sabia que exigia de nós uma revolta de sentido: tínhamos aprendido a repetir o Credo de um jeito monótono e unívoco. Cada afirmação era fechada e auto-suficiente. Não ficavam brechas nem lacunas. Afirmávamos contra o corpo:

Pensamos encontrar Deus onde o corpo termina: e o fizemos sofrer e o transformamos em besta de carga, em cumpridor de ordens, em máquina de trabalho, em inimigo a ser silenciado, e assim o perseguimos, ao ponto do elogio da morte como caminho para Deus, como se Deus preferisse o cheiro dos sepulcros às delícias do Paraíso. E ficamos cruéis, violentos, permitimos a exploração e a guerra. Pois se Deus se encontra para além do corpo, então tudo pode ser feito ao corpo2

O convite que Rubem Alves fazia abre a possibilidade de perceber as tensões do Credo, sabê-lo equívoco e carente de sentido. Tudo depende da entonação da voz. Este convite atravessava o pequenino livro de orações de Rubem, e se esparramava pela vida a fora. Vinha das ruas, dos movimentos contra a tortura, das mães e avós procurando pelos corpos desaparecidos de filhos e filhas, dos movimentos de mulheres contra a exploração de seus corpos, dos movimentos de proteção de crianças, de grupos ambientalistas e a urgência do cuidado do corpo do mundo, dos movimentos de trabalhadores e trabalhadoras organizados que afirmavam a santidade da força de trabalho em greve diante da máquina.

De tantas maneiras o corpo deixava de ser lugar de negação e de sofrimento e se afirmava como lugar de criação e de prazer que era impossível não aprender a dizê-lo de outra maneira também em nossas orações. Foi e tem sido um aprendizado difícil e desafiador. Mas não significava somente um deslocamento nas liturgias e na espiritualidade. Afirmar a ressurreição do corpo como plenitude erótica que nos humaniza traz desafios para a teologia e o jeito e o que dizemos de Deus. Traz desafios também para quem trabalha com a Bíblia. Os símbolos e imagens, metáforas e relações que habitam nossas orações, liturgias e teologia se referem ao elenco de histórias bíblicas.

Nosso léxico, nossa linguagem de corpo e de discurso, se alimentam do cardápio de personagens, enredos, estruturas, mitologias, seqüências e representações das tradições bíblicas vivas também nas culturas por caminhos de imposição, de assimilação ou de reinvenção. O que se construiu como senso comum no imaginário social a partir das tradições bíblicas é uma mescla entre um deus incorpóreo, puro espírito, e homens e mulheres cheios de ordenações e danações em seus corpos pecadores e mortais. Esta visão simplificada, violentamente monolítica e restrita do texto bíblico é a que prevalece nas catequeses e escolas dominicais, nas representações artísticas e nas liturgias. Infelizmente é a visão que continua perpassando também a leitura bíblica popular e ecumênica que fazemos na América Latina.

Ainda não fomos capazes de incorporar uma visão crítica da demonização do corpo e do erotismo nas versões oficiais do judaísmo-cristianismo, nem capazes de articular criativamente as descobertas e alternativas que a arqueologia, antropologia, psicanálise trazem para uma experiência religiosa mais integrada. Nossas leituras bíblicas continuam reforçando uma perspectiva de Deus impessoal, separada da humanidade e seus corpos, da natureza e seus corpos. Um Deus sem corpo e des-erotizado e, por isso mesmo, melhor e superior a outras divindades marcadas e misturadas a rituais de fertilidade e expressões eróticas.

O primeiro problema está na tentativa das teologias sistemáticas e suas versões catequéticas em trabalhar a Bíblia a partir de reduções temáticas e seqüenciais: fala-se de O Deus do Antigo Testamento como uma imagem única e referente a um mesmo conteúdo sempre. Ou organiza-se uma seqüência de imagens da divindade do Antigo Testamento, dispondo-as num movimento que vai da mais rudimentar e atrasada (uma divindade corpórea e erotizada) até uma percepção exata e mais avançada de Deus (sem corpo e sem relação). Além do problema metodológico está a afirmação de uma superioridade ética da divindade do judaísmo-cristianismo justamente por não se revelar nas formas corpóreas ou nos rituais referentes às materialidades humanas (comida, sexo, dança...).

Assim, valorizamos os textos e tradições que apresentam a revelação na forma do Livro, da Lei, da Aliança, subordinando ou excluindo toda e outra qualquer alternativa presente no próprio texto. A consolidação da verdadeira religião em Israel – monoteísmo javista – vai jogar um olhar monolítico sobre a história imprimindo um eixo editorial que estranha toda e qualquer expressão religiosa que se aproxime de atributos ou rituais de outras divindades. Neste sentido, tudo que é autêntico é bom e tudo que é estrangeiro é mau. Rotuladas como baal todas as expressões religiosas ligadas ao campo simbólico da fertilidade, as trocas eróticas com divindades personificadas na natureza vão ser demonizadas e combatidas, não permanecendo nem a alternativa da convivência.

O imaginário religioso compartilhado por diversos povos – e também por Israel – percebia a sexualidade como parte da ordem natural da vida, e como relação básica de geração, sustentação e re-criação do cosmos. A atração erótica é um movimento fundamental na dinâmica do cosmos, suas aproximações e distanciamentos, copulações e fertilidade. Deuses e deusas, homens e mulheres têm em comum a capacidade relacional, o desejo erótico e a dinâmica da fertilidade. A deusa Inanna/Ishtar, por exemplo, representa a presença divina expressa no impulso erótico. Sem esta deusa:


O touro não salta sobre a vaca o jumento não fertiliza sua fêmea pelas ruas, o homem não fertiliza a mulher jovem o homem fica deitado em sua cama, sozinho a mulher fica deitada sozinha no seu canto.3


Deuses e deusas – na literatura e nos achados arqueológicos – são representados e ritualizados na valorização de seus dotes sexuais e sua beleza erótica. A pesquisa aponta para um período de convivência de Javé com outras divindades e sua participação ativa nos cultos eróticos. Os cultos cananeus parecem ter sido eminentemente eróticos e orgiásticos, o que não deve ser confundido com culto de performance sexual. A visão de que os israelitas se deixavam seduzir por estas expressões religiosas encobre a real participação e protagonismo de Javé e de israelitas no imaginário religioso erótico.
Toda esta dinâmica vai desaparecer ou ser suprimida na consolidação do javismo monoteísta. Estabelece-se então uma divindade única, referida sempre pelo pronome masculino e representada por imagens predominantemente masculinas (guerreiro, rei, pai, etc.). Entretanto, a masculinidade de Deus não se expressa eroticamente nem por expressões de virilidade. A literatura vai explicitamente evitar citar ou referir-se aos atributos sexuais da divindade, esforçando-se por criar mecanismos de evitação do assunto. Antigos textos e tradições, que articulavam um Javé erotizado e como possível parceiro sexual, vão ser revisados ou suprimidos, utilizando-se mecanismos literários e metafóricos que desfiguram estas tradições. Neste sentido, a consolidação do monoteísmo representa também a dessacralização da sexualidade e do erotismo.

Reduzidos a fenômeno estritamente humano, erotismo e sexualidade não mais se apresentam como alternativa possível da experiência religiosa, ficando muitas vezes reduzidos e catalogados como sinônimo de pecado e idolatria (Oséias + Ezequiel). A negação e a omissão do imaginário sexual e erótico no fenômeno religioso em Israel faz parte da intencionalidade editorial de construção de uma divindade única despossuída de elementos e relações antropomórficos. A velação do corpo de Deus (Ninguém viu a Deus...), a afirmação de uma divindade única e, por isso mesmo, sem relacionalidade estreitam as possibilidades do imaginário erótico como expressão religiosa. Em lugar das trocas cósmicas fertilizadoras da vida, expressas em profusões de relações entre deuses e deusas, estabelece-se uma divindade única que governa a partir da Lei e da Palavra.

De todos os orifícios do corpo responsáveis pelas trocas com o mundo e as pessoas, somente a boca vai manter sua dignidade. A influência destas imagens da raiz de nossas tradições participa da consolidação de modelos de identidade e de relação, fornecendo e disponibilizando mitos que normatizam e perpetuam mecanismos de exclusão, alienação e sofrimento.

Neste sentido, uma primeira motivação para este número de RIBLA sobre Religião e Erotismo é a de fissurar a visão monolítica de Deus na Bíblia hebraica. A noção de Deus é extremamente complexa no judaísmo e corresponde a diferentes experiências, imagens e momentos ao longo de sua antiga história... (é preciso) perceber que o conceito de Deus não foi sempre o mesmo na tradição judaica primitiva, nem na posterior tradição cristã.4

Uma segunda motivação para nos dedicarmos à reflexão sobre erotismo e religião é a de desnaturalizar a identificação – presente nas culturas e nas teologias – das mulheres com “a fraqueza da carne, a sensualidade, a volúpia, a tentação, o pecado".5

Uma das formas de alienação material e simbólica das mulheres se dá por este processo de naturalização que imobiliza as mulheres em sua corporeidade. Resgatar as tradições bíblicas, que conhecem uma imagem de Deus erotizada e em relação com divindades femininas, abre alternativas para o protagonismo religioso das mulheres e a efetiva participação positiva do imaginário feminino no exercício hermenêutico e teológico.

A leitura e contemplação de místicos e místicas nos revela uma espiritualidade plena de erotismo, exercitando com fervor os louvores da carne e os gemidos da alma, fazendo da oração lugar de completude. Uma espiritualidade assim nos faz falta neste tempo de êxtases religiosos programados e simplórios. Uma terceira motivação seria o enfrentamento da situação de miséria sexual e erótica que vivemos – homens e mulheres – na América Latina.

Convivemos com cotidianos de desgaste, relações cansadas e cansativas, fantasias impronunciáveis, desejos adiados e a capacidade enorme de aceitação do marasmo erótico como se não soubéssemos que os mecanismos de dominação precisam de corpos eroticamente alienados para impor seu projeto. Um projeto libertador precisa conhecer seus pontos erógenos, precisa se deixar seduzir pelo sagrado presente em todo o mundo habitado. Criação.

O Espírito nos dá a criação, sacramento, jardim. Ele dá a humanidade como corpo, corpo desnudo, corpo macho, corpo fêmea, corpos que nada precisam esconder, tudo era bom, os olhos eram bons, imagem de Deus. Corpo, dádiva de Deus, destinado à eternidade.6 Sem precisar fazer – pelo avesso – o elogio do erotismo como lugar exclusivo de plenitude, mas inserindo-o como dimensão fundamental da reprodução simbólica e material da vida, a leitura bíblica libertadora tem diante de si o desafio de assumir as possibilidades, as contradições e os limites das vivências eróticas nas construções de modos de vida e de sociedade.


1,.Rubem Alves, Creio na ressurreição do corpo, CEDI, Rio de Janeiro, 1984.
2. Ibid., Introdução.
3. T. Frymer-Kensky, In the Wake of the Goddesses – Women, Culture and the Biblical Transformation of Pagan Myth, Free Press, 1992, p. 188.
4. Ivone Gebara, “Nas origens do mal”, em Teologia em ritmo de mulher, Paulinas, São Paulo, 1994, p. 43s.
5. Ibid., p. 84. 6. Rubem Alves
*************************************************************

epistemologia, osteoporose & aflição!





des-evangelização
dos joelhos

nancy cardoso pereira


ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho
onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo
Maria Teresa Horta


Falemos de joelhos.
...
Estou de pé e peço: um canto na sua cama. Indevida. Mas peço. Os joelhos tremem.
Você se afasta e um espaço enorme me convida pra deitar do seu lado. Eu inclino os joelhos, sem precisar sentar. Você me abraça e interrompe a consciência do último movimento. Eu estou ali onde sempre quis estar. Dobro meus joelhos e sinto os seus encaixados na dobra rente à minha perna. Por trás. O atrito do movimento suave me dobra. Cadeira cósmica, horizontalidade circular este genuflexório. Ajoelhada de costas pra você descanso os milésimos de segundo antes de começar a correr o nosso corpo. Eu sei. Aguardo.
Conectada tíbia, fêmur. Rótula, cartilagem, meniscos e ligamentos. Estes são os meus joelhos. Cheguei sozinha até aqui. Não vou tremer de medo, vergonha, frio ou indecisão. Esta é a melhor noite perdida de todas as noites. Além de tudo, a partir de hoje, sou senhora dos meus joelhos e mais ninguém!!

É que tivemos sempre joelhos tão mal evangelizados... dobrados liturgicamente na forma do Medo, da Festa e da Morte[1]. A gestualidade final da conquista cristã do continente latino-americano marcada pelo longo alcance da Inquisição (final do século XVI no Brasil) educou os joelhos para a desproporção entre o gesto e a crença. Os corpos aprenderam a obedecer primeiro pelo peso da violência e do castigo que acompanhavam a catequese e a homilia. Ninguém foi convidado ao convencimento. Os joelhos foram coagidos à flexão e assim se inventou a crença.
Aos olhos inquisitoriais, tomando-se pelo menos o critério da abundância numérica, os crimes relativos à corporalidade são mais representativos do que os ligados a um pensamento herético propriamente dito.[2]

A representação da fé no formato da liturgia sugere a catequização do corpo na previsão dos movimentos do corpo. Um senta e levanta interminável. Minutos sem fim de pé. Um formigamento sobe pelas pernas. O corpo pede descanso. A fé diz que não. Exige o sinal do sacrifício. Encenação. Cansado o corpo se despede dele mesmo e afunda no que lhe é oferecido: ouvidos, olhos e nariz. A liturgia devora toda minha cabeça. O joelho afrouxa e pede pra sentar. Infinita oração. A ladainha. Uma ordem vem do alto: podeis vos assentar! Ninguém fala assim: podeis! O corpo iletrado responde automaticamente, e senta. Ou alguém diz: A congregação pode se assentar! Como se fossemos um só corpo, um só quadril, um só joelho e sua rótula devocional.
A liturgia e a domesticação dos joelhos.
colocar-se de joelho na hora do Angelus significa muito[3]:
- em primeiro lugar representa a aceitação dos principais elementos marianos : a Encarnação Divina, a manutenção da Virgindade, a Anunciação.
- em segundo lugar, os toques de sinos marcando as orações do Angelus regulam o dia e marcam o domínio da Igreja sobre o tempo. Ao primeiro deve-se iniciar o trabalho, ao segundo comer, ao último recolher-se. Assim, colocar-se de joelhos nos toques do Angelus é também aceitar a Igreja como dona do tempo e a história sagrada como fonte de ordem.

Um dia, sem que ninguém me escute, vou orar com as mãos nos joelhos. Vou suspender minha saia e apresenta-los diante de deus como sacrifício vivo e racional. Eis meus joelhos e seus trabalhos! Abençoados sejam! Ralados e cansados, outros paralisados e doentes. São estes e não outros que ordenam a história e o tempo. Aprendi a me apresentar diante de deus com os joelhos firmados e o rosto curioso. Agora tudo é urgência: tomo pelas minhas mãos todas as coisas.
Una urgencia por Dios toma el vocablo. ¡Lo que nos pasa a veces! Si cuando niña se me hubiera dicho: 'Ante Dios afloja la rodilla y baja el rostro', yo hubiera obedecido. Pero nadie sopló luces de mitos en mi frente ni se movió en los nervios de mis actos (aprendí de mi abuelo a levantar, por mi mano, todas las cosas)
Enriqueta Ochoa

Também na escola, na educação, o joelho aprendia de forma dolorosa o a-b-c da obediência e sua cartesiana imposição.

"Porém da palmatória os bons efeitos/ são muito mais sublimes, mais perfeitos/ (...) Não há cousa melhor que a palmatória,/ que faz juízo ter/ e ter memória." Empregados em larga escala nas escolas brasileiras, os castigos físicos - não apenas a palmatória, mas os beliscões, as "reguadas", os puxões de orelha ou a obrigação de ajoelhar em caroços de milho - só começariam a ser questionados na segunda metade do século XIX. Em seu lugar entraram em cena formas mais civilizadas de controle disciplinar, os castigos morais.”[4]

Os joelhos interiores. As dobradiças da moral, da vergonha na cara.
Sentada: as pernas fechadas. O aprendizado repetido por gerações de mulheres: o vão das pernas evitado. O vão das pernas e sua cartografia. No espaço público, não. Em casa, sim. Na praia, sim. Na festa, não. No carnaval, sim. No jantar, não. Na escola, não. No passeio, sim. Coloquialidades e formalidades de ter o vão das pernas e ser mulher. O esforço todo colocado nos joelhos com o aprendizado dos sim! e dos não! O joelho como inteligência coletiva depositada na rótula e sua capacidade de flexão. Transitar pelas posições permitidas e pelos vórtices do movimento abusivo acolhendo o que séculos de cultura e biologia desenvolveram para os joelhos femininos: obediência, reclusão, graciosidade.
Ou não.
Nem eu me atrevo. Ser tocada por mim mesma. Nem um deus. Vou esperar que as promessas dos vídeos e das canções se cumpram e um homem me destranque as pernas. Abridor de latas a começar pelos joelhos. Trava civilizatória. Bambolê imprestável. Dobrada de desejo e confusão, o macho destrava meus joelhos como se abrisse uma porta, uma lata de cerveja, como se meus joelhos não estivessem ali e fossem somente um empecilho a ser vencido. Ah! as carícias necessárias num joelho secularmente domesticado!! Ah! o trabalho de base! O que eu mesma tive de refazer no formato arredondado do meu próprio joelho. Retirar as camadas de terror e genuflexão de todas as minhas antepassadas e deslizar eu mesma a minha mão pelo meu vão e encontrar meus pelos no final e a mão sem me sentir vulgar, paralisada ou órfã. Antes que um homem me arrombe os joelhos é preciso que eu tenha estado lá. Que eu tenha me dado joelhos para mim e já não tenha medo de todas horizontalidades, verticalidades, circularidades. Amém.


Se meus joelhos não doessem maisDiante de um bom motivoQue me traga fé, que me traga fé
Pescador de ilusões – o Rappa


Deixa que eu olhe você daqui! Da altura dos meus joelhos encosto meu rosto no teu joelho. Você está deitado com as pernas arqueadas e é tudo que eu me lembro. Já não sou eu que espero você vir me abrir. Chegamos até aqui de equívoco em equívoco, de desistência em abandono. Sou eu que toco seus joelhos com um beijo demorado e afrouxo suas pernas de pelos claros diante de um bom motivo que me traga fé. Estamos mulher e homem sem precisar ser o que nos mandaram. Você me puxa pra mais perto e meu rosto emoldurado pelos seus joelhos já não conhece mais condenação. Uma urgência de deus toma o vocábulo.


O mistério começa do joelho para cima
O mistério começa do umbigo para baixo
e nunca termina
Affonso Romano de Sant`Anna

E assim será a minha des-evangelização. Me decatequizarei remexendo meus joelhos e suas obediências. Suas saliências. Eu nos meus avançados 40 anos não temerei somente a osteoporose mas a memória interrompida dos meus joelhos, a sonegação de possibilidades, o adiamento de alternativas. Do joelho pra cima. Do umbigo pra baixo... o interminável exercício de estar viva como inteireza. Mistério. A religião como o desejo da carne que não me dá medo. Jacó lutou com deus e saiu marcado, a perna consumida de tanta presença. Só dobrarei o joelho quando for a hora e desejar: por beleza, por canseira, por orgasmo ou se doer. Nenhum deus, homem ou idéia.

O desejoEste da carne, a mim não me faz medo.Assim como me veio, também não me avassala.Sabes por quê? Lutei com Aquele. E dele também não fui lacaia.
Hilda Hilst

Quando o meu joelho e o seu tombarem de aflição e sossego e o regaço na cama for o conforto e a graça de já não querer nada além do abraço, repetirei com Teresa a pergunta pelo vôo enganchada na sua perna: deus conosco!

"Eu queria saber explicar, com o favor de Deus, a diferença existente entre união e arroubo, ou enlevo, ou vôo que chamam de espírito, ou arrebatamento, que são uma coisa só. Digo que esses diferentes nomes se referem a uma só coisa, que também se chama êxtase". Teresa de Ávila



Cruza as mãos sobre o joelho, ó companheira que eu não tenho nem quero ter. Cruza as mãos sobre o joelho e olha-me em silêncio A esta hora em que eu não posso ver que tu me olhas, Olha-me em silêncio e em segredo e pergunta a ti própria — Tu que me conheces — quem eu sou ...

Álvaro de Campos

Dois Excertos de Odes

(FINS DE DUAS ODES, NAIURALMENTE)


As possibilidades de súplica não se reduzem à situação do estrangeiro que chega em determinado país (por exemplo, em situações de batalha, a súplica é pronunciada com freqüência por um soldado que se encontra à mercê do inimigo, independentemente de tal soldado ser ou não estrangeiro). Benveniste (1969, pp.252-4) sustenta que a idéia mesma de suplicação não se encontra apenas no radical isolado hik– ("chegar"), de híko, hiknéomai e hikáno, mas em sua conjunção com o objeto direto goûna ou goûnata (acusativos plurais épicos de gónu, "joelho"): a idéia estaria no gesto de chegar até os joelhos de alguém; o suplicante seria aquele que toca os joelhos da pessoa de quem espera clemência. Há, na poesia épica grega, variantes desse gesto: agarrar os joelhos e beijar as mãos do outro, segurar seu queixo e beijar seus joelhos, segurar-lhe os joelhos e o queixo etc. O suplicante, na cultura grega, adota uma postura corporal que indica inferioridade com relação ao objeto de sua súplica (cf. Gould, 1973, p.94) e o elemento fundamental dessa postura é alguma forma de contato físico entre o suplicante e o joelho daquele que recebe a súplica.
Leaf (1900) vê na ação de agarrar os joelhos e tocar o queixo daquele a quem se dirige a súplica um gesto que simboliza o último recurso do guerreiro caído e desarmado diante do adversário que está para matá-lo: sua derradeira esperança seria agarrar-lhe os joelhos para atrapalhá-lo e empurrar seu queixo para trás para que ele não possa olhar para baixo e desferir um último golpe certeiro – isso daria tempo ao guerreiro caído de pronunciar seu pedido de clemência. Onians (1988, p.174), com razão, objeta que não há, em nenhuma passagem da literatura grega, sugestões de que o gesto de segurar o queixo de um adversário se destinasse a desviar seu olhar, ou de que o gesto de que agarrar seus joelhos se destinasse a estorvar-lhe os movimentos. Para Onians, os joelhos tinham valor religioso, tinham santidade: o fundamental, no gesto de súplica, seria o contato com essa parte santa do corpo humano (e não a intenção prática de segurar os joelhos do adversário para atrapalhá-lo).
Mas por que, afinal de contas, seria o joelho considerado uma parte sagrada do corpo? Alguns filólogos notaram que o termo gónu parece ser cognato de génos ("raça", "família", "geração", "nascimento") e de gígnomai ("nascer"), do mesmo modo que, em latim, genu ("joelho") poderia ser cognato de genus / generis ("origem", "nascimento") e de gigno ("gerar"). Tentaram-se explicações para tal aproximação entre a idéia de "joelho" e aquela de "nascimento", "geração", "família": Cahen (1926, p.56 ss) sugere que a aproximação se justificaria pela metáfora da família como um corpo humano (o joelho equivaleria, então, a uma ramificação da família). Segundo Back (1922, p.162 ss), a ligação entre o vocabulário relacionado com a geração e o termo que designa o joelho se deveria ao fato de que muitas mães davam à luz ajoelhadas. Meillet (1926, p.45) explica o latim genuinus ("genuíno") como o filho que foi reconhecido pelo pai como autêntico; ora, segundo Meillet, para que tal reconhecimento ocorresse o filho era colocado sobre os joelhos (genua) do pai – daí a associação entre os termos que designam os joelhos e a idéia de geração. Segundo Onians (1988, p.175), os povos indo-europeus conceberiam o joelho como sede da paternidade, da vida e do poder gerador. A atribuição de energia viril aos joelhos pode ser encontrada claramente no fragmento 347 (Voigt) de Alceu: segundo o poeta, a canícula torna as mulheres luxuriosas, lascivas, mas torna os homens moles e impotentes, pois o sol "resseca-lhes a cabeça e os joelhos" (kephálan kaì góna ... ásdei).
Gould (1973, pp.96-7), concordando com a tese de que os joelhos seriam sede da energia vital e da potência reprodutiva do homem, aventa duas hipóteses (segundo ele, não excludentes) para explicar por que o suplicante buscaria contato físico com tais partes sagradas do corpo do suplicado: uma é a hipótese de que os gregos acreditariam que, com tal contato, a energia vital de quem recebe a súplica fluiria para o suplicante; outra é a de que os joelhos, sendo sede da energia vital, seriam tabu: seriam vistos como uma parte do corpo muito vulnerável, que necessita de proteção. O gesto do suplicante, ainda que inofensivo, seria um contato simbolicamente agressivo com partes do corpo que o suplicado precisaria resguardar.
III
Qualquer que seja a explicação filológica ou antropológica que adotemos para dar conta da origem da sacralidade dos joelhos e de sua relação com virilidade e potência geradora, é inegável que os gregos e outros povos indo-europeus concebiam os joelhos como uma das partes nobres, sagradas, do corpo humano – assim como é evidente que o gesto de tocar os joelhos era essencial na atitude de súplica. A súplica era, originalmente, uma manifestação do corpo e o vocabulário da súplica (hikétes, gounoûmai etc.) descreve as formas concretas dessa manifestação. Tal interpretação está de acordo com a reconhecida concretude da linguagem homérica: na linguagem da Ilíada e da Odisséia, não haveria abstração.
Gounoûmai se, ánassa: theós nú tis ê brotós essi?
Normalmente, esse verso introdutório é traduzido mais ou menos assim4: "Eu te suplico, soberana: és um deus ou um mortal?" Todavia, o verbo empregado por Odisseu (e que os tradutores modernos vertem como "suplico") é gounoûmai, verbo que, até então, carregava o sentido concreto de "tocar os joelhos". Ora, é justamente isto – tocar os joelhos de Nausícaa – que Odisseu havia decidido não fazer. Nessa passagem, o verbo gounoûmai perde seu referencial concreto, abstrai-se: designa uma idéia de súplica que não inclui mais o gesto concreto de tocar os joelhos daquele a quem se suplica. Rompeu-se, aqui, a concretude do vocabulário homérico: a palavra, nessa passagem, não é mais uma representação da ação concreta5.
eu afirmaria, se me concedessem a licença para me exprimir com certa liberdade, que nessa passagem da Odisséia há uma representação poética da invenção do pensamento ocidental.

Electronic Document Format (ISO)
OLIVEIRA, Flávio Ribeiro de. Gesture and abstraction: employments of verb gounoûmai in Homer. Trans/Form/Ação. [online]. 2006, vol. 29, no. 1 [cited 2006-12-04], pp. 63-68. Available from: . ISSN 0101-3173..
Electronic Document Format (ABNT)
OLIVEIRA, Flávio Ribeiro de. Gesture and abstraction: employments of verb gounoûmai in Homer. Trans/Form/Ação., Marília, v. 29, n. 1, 2006. Available from: . Access on: 04 Dec 2006. .


Cesariny (1923-2006)
No país no país no país onde os homenssão só até ao joelhoe o joelho que bom é só até à ilhargaconto os meus dias tangerinas brancase vejo a noite Cadillac obscenoa rondar os meus dias tangerinas brancaspara um passeio na estrada Cadillac obscenoE no país no país e no país paísonde as lindas lindas raparigas são só até ao pescoçoe o pescoço que bom é só até ao artelhoao passo que o artelho, de proporções mais nobres,chega a atingir o cérebro e as flores da cabeça,recordo os meus amores liames indestrutíveise vejo uma panóplia cidadã do mundoa dormir nos meus braços liames indestrutíveispara que eu escreva com ela só até à ilhargaa grande história do amor só até ao pescoçoE no país no país que engraçado no paísonde o poeta o poeta é só até à plumee a plume que bom é só até ao fantasmaao passo que o fantasma - ora aí está -não é outro senão a divina criança (prometida)uso dos meus olhos grandes bons e abertose vejo a noite (on ne passe pas)Diz que grandeza de alma. Honestos porque.Calafetagem por motivo de obras.É relativamente queda de águae já agora há muito não é doutra maneirano país onde os homens são só até ao joelhoe o joelho que bom está tão baratoMário Cesariny de VasconcelosPoesia (1944-1955), Ed. DelfosDiscurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano

O andar, a curva de um joelho,
Vinco de seda no quadril
(não sabias quanto eras pura),
faço a delícia do dessous.

Eu sei que o êxtase supremo,
O looping no céu espiritual
Pode enredar-se, malicioso,
No que as mulheres mais (?), escondem
No que meus olhos mais indagam.
(O procurador do amor)
Drummond O amor natural

Cantos 1-2 Ilmatar [a Deusa do Ar] desce à água e torna-se mãe das águas. Uma negrinha põe ovos no seu joelho. Os ovos partem-se e dos pedaços forma-se o mundo. Väinämöinen nasce da mãe das águas. Sampsa Pellervoinen semeia árvores. Uma árvore cresce tanto que esconde o Sol e a Lua. Do mar emerge um pequeno homem que abate o carvalho. O Sol e a Lua podem brilhar novamente.
A primeira edição do Kalevala foi publicada em 1835. A obra nasceu como resultado do trabalho realizado por Elias Lönnrot, sendo composta pelos poemas populares que ele recolheu. A poesia lírica antiga, com um metro singular de quatro troqueus, baseado nas relações da acentuação das palavras, vivia na tradição dos povos de língua fino-ugriana da região do Báltico, há mais de dois milênios.


Quando o Kalevala foi publicado, a Finlândia era, desde há um quarto de século, um Grão-Ducado da Rússia, tendo antes disso pertencido ao Reino da Suécia até 1809.O Kalevala foi um ponto de viragem na evolução da cultura de língua finlandesa, tendo também despertado interesse fora do país. Entre os finlandeses, a obra fez nascer a confiança nas possibilidades da sua própria língua e cultura e, além fronteiras, levou um pequeno povo desconhecido à consciência dos outros povos europeus, ganhando assim o estatuto de epopeia nacional.
http://www.valinor.com.br/content/view/6349/64/

o monumento não tem porta a entrada é uma rua antiga estreita e torta e no joelho uma criança sorridente feia e morta estende a mão
Tropicália Caetano veloso


Está lá, em Muhammad, que o Paraíso está no joelho das mães. E a 'Ummah, a coletividade árabe, tem a mesma raiz de mãe, 'Umm; é uma realidade mate
Interpretações das Mil e Uma Noites*
http://www.alcorao.com.br/pulpito.asp?id=10

Jamil Almansur Haddad
http://www.hottopos.com/collat6/jamyl.htm

«Ás vezes, quando o ar parece que me foge, / Me falta Deus, ou espanta a nossa condição, / Como os fiéis de outrora, a seus pés, hoje / Dobro o joelho trémulo no chão. / Nem restos de orações lhe rezo. /Espero no silêncio e na opressão, curvado, / Que Jesus Cristo ao seu madeiro preso / Tenha dó de mais um crucificado.» José Régio 1927
TERESA SÁ COUTO«Poemas de Deus e do Diabo»O combate existencial de José Régio
http://www.triplov.com/letras/teresa_sa_couto/jose_regio/regio1.htm,
10para a liberdade e luta me enterrem com os trotskistasna cova comum dos idealistasonde jazem aquelesque o poder não corrompeume enterrem com meu coraçãona beira do rioonde o joelho ferido tocou a pedra da paixão
PauloLeminsky

Antigamente construía os poemas quase inteiramente na cabeça.
Quando ia escrever estava perto da forma final. Agora estou mais indeterminado. Começo rabiscando, mas anarquicamente. E sei que não comecei pelo começo. Mas pela orelha, pelo joelho do poema... Ele nasce desordenada. Não só do ponto de vista formal, como do da idéia.
Ferreira Gullar
revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11059

O vida perfumada cantando devagar. Enleio-me na clara dança do teu andar. Por uma água tão pura vale a pena viver. Um teu joelho diz-me a indizível paz.
Antonio Ramos Rosa
http://usuarios.cultura.com.br/migliari/po_ar04.htm

TIRO NO JOELHO
Vi escrito numa crónica de um jornal regional minhoto: "ferido no joelho ele perdeu a cabeça". Será que a bala bateu no joelho e desviou para a cabeça?
pasteldenata.blogspot.com/2003_09_01_pasteldenata_archive.html

Provérbios Brasileiros e Portugueses - A1
A pecado novo, penitência nova. A pecado velho, penitência nova. ... A perna faz o que o joelho quer.


www.oneyearbibleblog.com/2005/09/index.html

http://www.catholicshopper.com/products/inspirational_sport_statues3.html

http://www.radiosai.org/pages/20050724/slides/06-...and%20outpouring%20devotion.html


www.sdomingos.com/cat0606/leilao17.html


casa do padre

www.leestoneking.com/Truth.htm
home.it.net.au/~jgrapsas/pages/Passions.html

baptist.org.ua/sermons/

www.bibleplus.org/repentance/repentance.htm

catholica.pontifications.net/?p=1450

vineyardmen.typepad.com/.../2005/11/index.html

fashiontribes.typepad.com/main/2006/04/fighti...

wickedmoon.com/funpages/shoe_fashion.php

www.sheilas-sexy-shoes.com/thigh-high-5.html

http://www.silviacardoso.com.br/fotos-novas/thumbnails.html
[1] Amor e Terror : Representação e Inquisição http://www.fflch.usp.br/dh/ceveh/public_html/biblioteca/livros/teatro_fe/tf-p-l-cap3.htm
[2] Amor e Terror, ibid
[3] Amor e Terror, ibid
[4] Daniel Cavalcanti de Albuquerque Lemos, Entre a palmatória e a moral
http://www.nossahistoria.net/interna.aspx?PagId=GOLCVKWI