julho 23, 2017

Celebração das coisas santas mundanas e humanas: as calcinhas


- liturgia para um encontro de mulheres (2014)

Aqui estamos. Chegamos até aqui trazendo nós mesmas
Nossas histórias e nossas realidades
O dia a dia e o extraordinário de nós todas
O mais cotidiano e suas relações sociais de gênero
Na leitura da Bíblia, na leitura da vida, no trabalho de base,
Aonde vamos, do que falamos, do que vestimos: somos nós



(cantar)
De braços erguidos a Deus ofertamos,
Aquilo que somos e tudo que amamos.
O que nós vestimos, compartilharemos
Por fora e por dentro não nos envergonhamos

As coisas, as pessoas, os lugares impregnadas de uso se desgastam, envelhecem e ficam sujas. As roupas, os copos e as janelas. As crianças, os idosos e os doentes. O quarto, o escritório, a estação, a praça, a rua, a igreja. De estar vivo e de estar em uso, as coisas repetidamente estão necessitadas de cuidado, limpeza, consertos. De novo e de novo, viver produz lixo, produz cansaço, produz poeira, produz manchas, restos, cheiros. Qualquer que seja a forma social de produção ela tem de ser contínua, deve repetir rotineiramente as mesmas atividades criando as condições para continuar existindo.
As casas que sempre se sujam. As camas sempre reviradas, o banheiro com cheiro ruim, a louça acumulada na pia... as roupas que nunca ficam em paz! Sempre em trânsito entre as gavetas, os corpos e o tanque ou a máquina, o varal, o ferro a gaveta, o corpo e tudo de novo. E calcinhas necessárias e escondidíssimas. Trazemos na mala. Usamos, gastamos, lavamos, secamos... e elas retornam para o uso fruto do trabalho e do cuidado.
Parte da estratégia patriarcal de dominação e violência passa pela invisibilização da vida doméstica, do corpo, das coisas humanas demais...  e nossas “calcinhas” desaparecem, o modo como organizamos e vivenciamos o vão de nossas pernas deixam de ter dignidade.
Estamos aqui e afirmamos tudo que somos e tudo que amamos, nossa humanidade de calcinhas e o trabalho de todo dias de fazer de novo a vida se restaurar.
(escutar a música da Mercedes Sosa e mostrar umas para as outras uma “calcinha”; depois pendurar as calcinhas num varal ao som da música)

Música disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=0SL6BEgaFIU








Soy Pan, Soy Paz, Soy Más

Yo so-o-oy, yo so-o-oy, yo so-o-oy
Soy agua, playa, cielo, casa, planta
Soy mar, Atlántico, viento y América
Soy un montón de cosas santas
Mezcladas con cosas humanas
Como te explico cosas mundanas

Fui niño, cuna, teta, techo, manta
Más miedo, cuco, grito, llanto, raza
Después mezclaron las palabras
O se escapaban las miradas
Algo pasó no entendí nada

Vamos, decime, contame
Todo lo que a vos te está pasando ahora
Porque sino cuando está el alma sóla llora
Hay que sacarlo todo afuera, como la primavera
Nadie quiere que adentro algo se muera






Hablar mirándose a los ojos
Sacar lo que se puede afuera
Para que adentro nazcan cosas nuevas

Soy, pan, soy paz, sos más, soy el que está por acá
No quiero más de lo que me puedas dar, uuuuuuh
Hoy se te da, hoy se te quita
Igual que con la margarita igual al mar
Igual la vida, la vida, la vida, la vida

Vamos, decime, contame
Todo lo que a vos te está pasando ahora
Porque sino cuando está el alma sóla llora
Hay que sacarlo todo afuera, como la primavera
Nadie quiere que adentro algo se muera
Hablar mirándose a los ojos
Sacar lo que se puede afuera
Para que adentro nazcan cosas nuevas
Cosas nuevas, nuevas, nuevas, nuevas






Oração da calcinha: Deus das nossas vidas, Deus do cotidiano trabalho de existir, recebe nossas calcinhas como sinal do que somos, nossas andanças, nosso corpo e suas escolhas, nosso cotidiano e de tantas mulheres. Caminha conosco, lava conosco nossas calcinhas e não deixe que nenhuma de nós viva com vergonha, com medo ou com o poderio do olhar, da decisão e o preconceito do mundo patriarcal. Amém

Nenhum comentário: